2007/11/24

Feiticeira

Feiticeira de veredas
Cujos atalhos caminho com as palavras
Na tua boca contemplo o esconderijo do teu olhar
Louco pelo teu desejo,
Alimento misteriosamente este meu deslumbramento por ti

Génio de mãos inundadas de exaltação e calor
Flamas o meu espaço perpetuamente,
Como um cântico que voa sem tempo

Na torrente da tua vastidão,
Sulcam estilhaços de céu e paixão
Envolves-me com imperturbabilidade
Nesse suor da tua suavidade
Afastando a solidão fútil dos iguais
Trazendo significado motivado

Tens o dom de sanar a minha dor
São tuas as palavras que a paixão cria
É tua a luminosidade que me dá o teu sabor

É tua a existência que crias na poesia

És

Gosto e Intenção
Paixão e Enleio;
Pretensão e Empenho
Propósito e Querer
Galante tentação de sede e vontade

O mundo dos adjectivos incendeia o meu espaço
Ininterruptamente…
Como uma canção que voa sem tempo
Nessa tua torrente de apologia
Nessa fogosidade de combate
Experimento
O teu rasgo impetuoso
O teu entusiasmo e querer,
Porque visitas o meu afecto e o meu desejo

É teu o meu desassossego, impetuoso, que deixa antever esta certeza metafísica:
É tua a existência que crias na poética
São tuas as palavras que a paixão cria
Fora do tempo, no lugar último
Sinto a erosão da tua ausência
Vêem-me à memória dolorosos espaços que não tive
Brilhos que não vivi
Contigo Sonho e acordo
Não é em vão que te percorro
Não é vão que te procuro
Tens a claridade de encher o mundo
Num sabor vasto e profundo

Porque me enleio com tranquilidade no suor da tua ternura?

Quebradores de Pedras

Procuro os leitos cinzentos das estradas
Adormecidas
Na penumbra estrelada Ris!
Ris porque desenhas metáforas
Onde julgas que se movem as verdades
Ris porque acusas o vaso sagrado
Das coincidências
Incómodas hipóteses dos espaços,
Em branco

Alquimistas ávidos de futuro
Quebradores de pedras condenados
Onde todas as máscaras procuram
Um rosto
Incómodas hipóteses dos espaços,
Em branco
A matéria também usa a sua máscara
És o instrumento escondido
Carcereiro do fantástico sonhado
Onde está a partícula do ilimitado?

Entropia

Não sou um realista
Não sou um intermediarista
Não sou um idealista
… Sou um procurista
Não me interessam os factos
Mas entre eles, as suas relações

Raspem as etiquetas
Do psiquicamente correcto (o como está agora em voga do politicamente correcto)

O que é uma coisa?
A ocupação humana estabelece
O critério
De que forma todas as aparências são todas enganadoras?

Serão?

Contíguos de tudo o que nos cerca
O que é tudo?
Ilhas de projecção

Nostalgia de Ti

Não posso, não quero, não sou capaz
De perder esta outra parte
De mim
Que és tu

Estou preso nesta dualidade
E achou-me louco!
Mas pedem-me para ser um louco
Sensato
Esta certeza metafísica
Não me deixa trocar a contemplação dos astros pela tua
– Alimentando uma alucinação violenta e misteriosa

Penetro saliências sem dimensão
E no meu olhar sinto a erosão
Da tua ausência

No laboratório da minha alma
Procuro o caminho
Nostálgico, ansioso, saudando
– Sonhando com a satisfação da minha fome,
Desse odor da mulher poema que tu és
- Incessantemente à espera

Arrebatamento

Hoje,
Que envergas as roupagens sedutoras da celebração da tua existência
Leva-me a proferir que a tua luminosidade … é um hino ao amor
Hoje,
O calor é como um cântico que voa sem tempo
Hoje,
A magia uma vez mais afastou a futilidade dos iguais
Hoje,
Inundado de exaltação e mistério
Como de um calmo e balsâmico prazer
Acalento esse Deslumbramento Único
Hoje e sempre
A tua existência sana a minha pouca humildade
Hoje, como ontem
Celebro a demanda dessa poesia, dessa felicidade
Desse inquieto espaço que só génio mulher pode representar
Hoje,
O meu grito não é de admiração
Hoje,
O meu grito é de exaltação
Hoje,
É dia de poesia.

Existência Mansa

Aliás
isso nem se usa
dizem, os mentores
das cadeiras burocráticas
dos seus dias, girando
da idiotice, amealhada

Fazedores - do comércio
em que a ternura
por ti
é razão absurda
na existência mansa
do ter




RODRIGUES, Fernando (1996) – "Existência Mansa", in BOSQUE FLUTUANTE – o vírus na rede dos camaleões, Colectânea de 12 autores. Ed. Minerva, pp.

Entrevejo o Espanto

Não mates o espaço dionisíaco
O paraíso gritante
Dos olhares indiscretos
Que contaminam a diferença
A fusão total e exclusiva

Abismo de perda, Museu de horrores
Correntes de confidências

Manipuladores escolhendo a estrada
Da vitória
Sem artifícios !
O perigo é altíssimo
O prémio é sublime.

À Beleza

Esta parte de outra
Que são as aparências
- intermediárias -
só encaram a dualidade
Pedem-me para ser um louco sensato
Mas esta certeza metafísica
não me deixa trocar astros pela Bíblia
Provavelmente existe uma relação

2007/07/05

À Emoção

Em sinopse sentado
Levanto-me e canto
a um Deus

De novo encanto-me
com a luz

Foda-se não era
assim que era para
Ser
Ser! Ter!

Quero o espanto
que abala, derruba,
os feitores do Ter
Ter
que não sabe
se alguma vez é SER

Ser EU
Asfixiado na contabilização
do Ter
não abrange Eu Estar no Ser
Absorvido pela mesquinhez
de Ter

Quero a sensação arrojada
dos que comigo gritam
bem Alto
o encanto da procura
os que cantam a dor

Ter
Sem Ser
dor aguda, absurda
Foda-se eu quero ser.




RODRIGUES, Fernando (1996) – "À Emoção", in BOSQUE FLUTUANTE – o vírus na rede dos camaleões, Colectânea de 12 autores. Ed. Minerva, p. 53

Silêncios

Foge à mediocridade desses sentimentos acanhados
Ama o que fazes de forma epidémica
Neste pungente grito de raiva e amor
A irreverência continua-me colada
Vestindo roupagens sedutoras
Desesperadamente em demanda
De poesia e de felicidade
Como de um calmo e balsâmico prazer,
Deixa-me procurar
Solta-me este inquieto levitar
Desobriga-me dos silêncios comprometidos