2006/04/18

Igrejos


Enjaulo-me
No conceito da tua existência
Os que amo
Guardando-os em frascos
Catalogados de medos
Das ideias feitas
De outrora

Procura mente, observa
Sem julgar

As gaiolas dos
Que comigo brincaram
em crepúsculos alongados
da minha infância
que me ajudaram a talhar
o deus-homem-menino.

Sortilégio dourado
Os que adoram
Metais de passagem
Interrogados pelo medo de serem
Livres dentro de jaulas
Feitas por avós

Quisera-os derrubando a sapiência
Construída dos Igrejos
Que ao Domingo nos asfixiavam
.


RODRIGUES, Fernando (1996) – "Igrejos", in BOSQUE FLUTUANTE – o vírus na rede dos camaleões, Colectânea de 12 autores. Ed. Minerva, p. 56.

2006/04/05

Putas

Caminho de putas
que tragam
deliciosa, juventude
dissipada nas noites

Mulheres que cresceram
mordendo a lua
dos outros
Livres do corpo
que tratam ofendidas
pela tesão de alguém

Experimentando o fingimento
peculiar do preço facturado
onde a marca da diferença
auto-erótica
violenta e misteriosa
alimenta a alucinação
dos que querem , apagar
os seus receios históricos
Há um obstáculo
uma recusa
do encanto de paredes frágeis
que desencadeia a viagem
esfomeada insultando
a heroína do desejo

Gurus ocasionais
do contínuo
Afrodites de rosto contraído
em que o sono mistura
metamorfoses orgiásticas

Procurei a raiz
da tua essência
foi agredido

Procurei, encontrei
ausência
Manjar de Deuses
acolhe-me

Procurei no seio
da tua, minha
loucura
Néctar
Arranca em mim
esta dor

RODRIGUES, Fernando (1996) – "Putas", in BOSQUE FLUTUANTE – o vírus na rede dos camaleões, Colectânea de 12 autores. Ed. Minerva, p. 54.