Enjaulo-me
No conceito da tua existência
Os que amo
Guardando-os em frascos
Catalogados de medos
Das ideias feitas
De outrora
Procura mente, observa
Sem julgar
As gaiolas dos
Que comigo brincaram
em crepúsculos alongados
da minha infância
que me ajudaram a talhar
o deus-homem-menino.
Sortilégio dourado
Os que adoram
Metais de passagem
Interrogados pelo medo de serem
Livres dentro de jaulas
Feitas por avós
Quisera-os derrubando a sapiência
Construída dos Igrejos
Que ao Domingo nos asfixiavam.
RODRIGUES, Fernando (1996) – "Igrejos", in BOSQUE FLUTUANTE – o vírus na rede dos camaleões, Colectânea de 12 autores. Ed. Minerva, p. 56.
Caminho de putas
que tragam
deliciosa, juventude
dissipada nas noites
Mulheres que cresceram
mordendo a lua
dos outros
Livres do corpo
que tratam ofendidas
pela tesão de alguém
Experimentando o fingimento
peculiar do preço facturado
onde a marca da diferença
auto-erótica
violenta e misteriosa
alimenta a alucinação
dos que querem , apagar
os seus receios históricos
Há um obstáculo
uma recusa
do encanto de paredes frágeis
que desencadeia a viagem
esfomeada insultando
a heroína do desejo
Gurus ocasionais
do contínuo
Afrodites de rosto contraído
em que o sono mistura
metamorfoses orgiásticas
Procurei a raiz
da tua essência
foi agredido
Procurei, encontrei
ausência
Manjar de Deuses
acolhe-me
Procurei no seio
da tua, minha
loucura
Néctar
Arranca em mim
esta dor
RODRIGUES, Fernando (1996) – "Putas", in BOSQUE FLUTUANTE – o vírus na rede dos camaleões, Colectânea de 12 autores. Ed. Minerva, p. 54.